E AGORA, “OH TERRAS DE VILA FRANCA”, INOVAÇÃO, SIM OU NÃO?
por João Santos, Presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
Chegados aqui, o que podem os Vilafranquenses fazer para que Vila Franca de Xira, tal como a conhecem, não “desapareça” no futuro próximo?
O tempo é de estratégia.
Em Vila Franca de Xira, nunca antes foi tão relevante conciliar a emoção e a razão.
Observando os dados publicados recentemente pela Inspeção-Geral das Atividades Culturais, o número de espectadores nas praças de toiros diminuiu, em nove anos, aproximadamente 50%, de 698.142 (2008) para 377.952 (2017) espectadores.
A conclusão a que devem chegar, de forma muito pragmática e lógica, todos aqueles que não querem contribuir para o “desaparecimento” de Vila Franca de Xira, é a seguinte: Em 2026, o número total de espectadores nas praças de toiros será igual a 150 mil, ou seja, pouco mais do que o suficiente para encher dois estádios de futebol.
A negação desta conclusão constituir-se-á como mais um contributo para a tendência a que se vem assistindo.
A realidade atual, dura e exigente, deve ser encarada com pragmatismo. A dimensão do problema não dispensa racionalidade e estratégia.
(Por isso, é com racionalidade que a resposta à seguinte questão deve ser dada).
Que processo deverão os Vilafranquenses estrategicamente desencadear, com o objetivo de manter viva a Identidade de Vila Franca de Xira e de, inclusivamente, ampliar a base de apoio aos seus costumes e tradições?
A resposta à questão anterior não pode deixar de considerar o conceito de “Inovação”. E não é, evidentemente, de Inovação disruptiva que se trata. É apenas de Inovação.
A Inovação ajusta as atividades às conjunturas. A Inovação contribui para tornar as atividades mais eficientes. A inovação contribui para a diminuição dos “custos” inerentes às atividades, tornando-as, por conseguinte, sustentáveis no tempo. A Inovação contribui, decisivamente, para o sucesso das atividades.
Nesta fase, só com recurso à Inovação será possível tornar os costumes e tradições Vilafranquenses sustentáveis no tempo e, mais ainda, robustecê-los.
Mais do que não deixar Vila Franca de Xira “desparecer”, os Vilafranquenses devem ambicionar robustecer os seus costumes e tradições. E isto só será possível através da ampliação da adesão e da base de apoio aos mesmos.
Para alcançar este desígnio estão todas e todos os Vilafranquenses convocados. Estão convocados os Vilafranquenses que gostam da atividade tauromáquica. Estão convocados os Vilafranquenses que se opõem à atividade tauromáquica. Estão convocados os Vilafranquenses que sentem indiferença relativamente à atividade tauromáquica.
O espírito que emana da cultura Vilafranquense extravasa a atividade tauromáquica, é certo. No entanto, também não é menos verdade que esta atividade assume um dos papéis centrais na construção identitária dos Vilafranquenses.
As Lezírias, por exemplo, são um dos elementos fundamentais da Identidade de um Vilafranquense. A misticidade associada às Lezírias é indissociável da figura do Campino, que assume um simbolismo central em Vila Franca de Xira. O Campino desenvolve a sua atividade, justamente, em função da tauromaquia.
Deste ponto de vista, é perfeitamente compreensível a defesa vigorosa dos interesses tauromáquicos por parte dos Vilafranquenses “aficionados”. Sendo privados da atividade tauromáquica, estes Vilafranquenses sentir-se-iam identitariamente “amputados”.
Também não é menos compreensível, é certo, a posição dos Vilafranquenses que se afirmam como contrários a qualquer forma de sofrimento infligido aos Seres Vivos em geral.
Apesar de tudo, é muito lógico que até os Vilafranquenses contrários a qualquer forma de sofrimento infligido a Seres Vivos não deixem de reconhecer o desempenho estético e corajoso dos Forcados de Vila Franca de Xira ou de intérpretes como José Júlio, Mário Coelho, Vitor Mendes, e, mais recentemente, João D’Alva.
Isto ocorre porque os Vilafranquenses em geral, “tauromáquicos” e “não-tauromáquicos”, possuem uma Identidade própria, assente num sistema específico de Valores. Estes valores, tendo sido apreendidos durante as fases da infância e da adolescência, fazem parte integrante do “ADN” dos Vilafranquenses.
No entanto, para os Vilafranquenses “não-tauromáquicos”, ao sistema de Valores referido no parágrafo anterior, foram-se acrescentando, ao longo da vida, circunstancialmente, outros Valores. Para estes Vilafranquenses, o reconhecimento do desempenho estético e corajoso dos intérpretes tauromáquicos não deixa de ocorrer. No entanto, este reconhecimento é acompanhado, em simultâneo, por uma ambiguidade de sentimentos, que tem culminado, invariavelmente, no “encolhimento” da base de apoio aos costumes e tradições tauromáquicas.
Nesta fase, é absolutamente crucial travar o “encolhimento” da base de apoio aos costumes e tradições Vilafranquenses. Mais, é fundamental aumentar a base de apoio aos mesmos.
É aqui que a Inovação assume condição de indispensável.
Sendo possível Inovar, com resultados eficazes na ampliação da base de apoio aos costumes e tradições tauromáquicas de Vila Franca de Xira, em vez de pouco mais de uma centena de milhar de adeptos em 2026, os intérpretes tauromáquicos anteriormente mencionados tenderiam a ser considerados “estrelas” de nível global (por que não?), equiparadas aos maiores desportistas ou artistas mundiais.
Avaliando, com detalhe, as características da atividade desenvolvida pelos intervenientes diretos em eventos tauromáquicos, a hipótese colocada no parágrafo anterior seria plausível: estética dos movimentos; tecnicismo apurado; coragem invulgar; risco eminente; emoção; dimensão ritualística…
Sendo o processo de Inovação bem sucedido, que consequências se desencadeariam no “mercado” da atividade tauromáquica?
Verificando-se um aumento significativo do “consumo” desta atividade, o investimento financeiro neste setor, por parte de investidores privados, seria verdadeiramente colossal.
Esta exponencial ampliação do investimento privado no setor, resultaria em níveis superiores de especialização em todas os segmentos da atividade tauromáquica (mais e melhores praças de touros, mais e melhores intérpretes, mais e melhores ganadarias, mais e melhores escolas tauromáquicas,…).
Tudo isto pode ser realidade desde que seja possível ampliar o mercado de consumo da atividade tauromáquica, que, neste caso, também significaria ampliar a base de apoio que dá suporte aos costumes e tradições Vilafranquenses.
Por isso, por paradoxal que possa parecer, o reforço da Identidade Vilafranquense, tal como a conhecemos, não dispensa Inovação.
Será através de processos de diálogo construtivos, com intervenientes serenos, dotados de substância crítica e com humildade intelectual para observarem a realidade de acordo com a perspetiva da parte contrária, que se concretizarão cedências e se alcançarão os consensos absolutamente cruciais para Vila Franca de Xira
Vila Franca de Xira merece esta conduta de todas as partes.
“Inovar, para tornar perene”. Deverá ser este o mote para o processo que urge ser iniciado em Vila Franca de Xira.
João Santos
Presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira
em, 21 de novembro de 2018.
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